Ando de cabeça baixa na rua
Com o meu andar cansado
e o olhar fixado no chão,
no cinzento das pedras da calçada,
com ervas daninhas nas suas brechas
e pontas de cigarros espalmadas.
Tenho andado assim...
De cabeça baixa,
desde o dia em que a rua deixou de ser “a nossa”
para ser só “a minha” com pesar.
Ando de cabeça baixa na rua
para não ver o meu reflexo
nas casas vazias e abandonadas
que antes me enchiam a alma
com as suas fachadas coloridas
de amarelo, azul e branco.
É como se tivesses levado o arco irís
O sol, a cores, as flores de alecrim
e todo o Alentejo...
Não tenho mais sementes
Nem mais terra para me plantar.
Está tudo neste chão que eu fixo
Quando saio á rua de cabeça baixa
As fachadas caídas, as pedras rudes da calçada
Tudo está no chão!
Até os meus olhos.
No ar ficou o frio cortante da solidão
Um denso nevoeiro que afugenta a primavera
As vozes das casas desabitadas
E este inverno que nunca mais acaba.
Há um vazio em tudo isto
Uma dor acentuada pela tua ausência
Até as andorinhas não voltaram mais
As oliveiras, os alandros, as romanzeiras secaram
e das buganvílias apenas restam os espinhos
Levanto a cabeça por instantes
Deste chão onde me encontro
Eu não te vejo!
Onde estás?
©Altino Pinheiro 12.02.2020