sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A minha rua


















A minha rua é um lugar que existe para além do muro do nada.
Uma muralha de pedra e areia coberta pela sombra branca da cal. 
Dois passeios de gente distante exibindo sem graça a joga que lhes cobre a calçada da alma.

A minha rua sobe e desce num sentido transcendente, como o foguete do tempo que ascende ao céu para explodir num momento. 
Tem todas as portas fechadas, trancadas a oito chaves para que o sentimento não saia e veja que a rua são afinal duas paredes pintadas de ilusão.

Não tem fim a minha rua, vai para além do pensamento que é vizinho do infinito, o eco gritante do firmamento.
A minha rua tem uma estrela cintilante que teima em brilhar todas as noites e contar histórias de embalar às paixões já adormecidas.

Do vidro fosco das janelas vêm-se sorrisos quebrados pela solidão num vazio suportado pela dor iluminada.

A minha rua não tem nome.  
Faltam as palavras que descrevam os passos de quem mora na imensidão deste espaço chamado poema.

© Altino Pinheiro

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Quatro estações

Deixa-me existir em ti
Como o círculo das estações
Que tão-somente por si
São as nossas emoções

Quero ser o teu regaço                                       
Que na primavera há
Teu carinhoso abraço                               
Que o inverno não dá

Deixa-me ser teu sono
Na noite morna de verão
E como folhas de Outono
Cairmos os dois em paixão 

© Altino Pinheiro


domingo, 3 de novembro de 2013

Hoje acordei


















Hoje acordei diferente                                                             
no espaço frágil da separação.
Leve e perfumado pela distancia
numa calma e estranha manhã                                           
com o sol a beijar-me o rosto
como quem ama um filho

Hoje acordei sem ti                                                            
com a sensação diferente                                             
do despertar de mim
no dia novo do tempo
sem sentimento de falta
nem permissão da recusa

Hoje acordei mais belo
da insónia eterna
sem razão nem culpa
da ilusão materna.

Hoje acordei sem ti
Será que eu nasci ?

© Altino Pinheiro