segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Insónia



Deito este pedaço de carne viva cansada pressentindo que não vai dormir
Peço à alma arrependida que me guarde e não me deixe partir
Agradeço  sem rezar a deus nosso senhor credos e atos de contrição
ladainhas, pais nossos,  salvé-rainhas, e deito-me em gratidão.

Abraço inseguro o meu leito, mortificado, cansado, rogando aconchego.
Para que possa por fim dormir petrificado, com desapego, em sossego.
Falsa é a promessa da noite, cúmplice,  cometida, metida em parvónia
Desta coisa que dorme comigo, sobrevivida, prostituta chamada insónia

Companheira infiel, amante fugaz, par de dança louca, camasutra doloroso
Frágil de sensualidade, mãe da brutalidade, sexo tântrico pecaminoso
Sussurras-me historias de não adormecer, como a prestação que está para vencer
Do papão da noite fria, a conta da energia, o crédito cancelado pelo sono mal parado

Disfarças com teus comparsas; as sirenes perturbantes, os gatos delirantes, e aqueles grilos irritantes.    Um choro de bebé, a cafeína do café, o pesadelo suado no relógio iluminado, delírio doente e o teu roncar permanente.

E eu deitado, arregalado, enfadonho peço-te, vai-te não me mates o sonho
Faço as pazes com o passado, dias mexeriqueiros, conto carneiros, não me componho
Oh insónia estridente, intermitente que me deixas esmirrado, pasmado, revoltado
Para que no gozo do momento, me arrases o pensamento, e ficar bem acordado

Oh noiva prometida nesta noite de novo perdida, cancro, remorso e ciúme em chama, sai já da minha cama.
Não quero os teus leitinhos mornos, nem xanaxes engolir
Vão-se embora demónios que eu só quero dormir.


© Altino 2013

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