Como
o mar que se vaza em marés, para depois se expressar nas ondas do pensamento,
assim me sinto, redopiando palavras para escrever um poema.
Coloco
a mente em desvario procurando o verbo que descreva o sentimento. E deve ser ímpar, para fazer nascer um verso novo, solto como o vento.
Sabes
meu filho, isto de escrever tem muito que se lhe sinta, se não sentires, mais
vale correres para não seres apanhado pelo pensamento.
E
não te ponhas a empurrar a emoção magoada, com tântricas palavras ocas, que
acomodem teus olhos às lágrimas da comoção ultrapassada.
Mais
vale perguntares ao amor intermitente ou à dor permanente se te podem ajudar na
tua derradeira expressão. Porque não é fácil escrever um poema.
Oxalá
fosse tão fácil escrever sobre as minhas viagens ao mundo das transcendências
interiores, do juízo que se rasga num pensamento falso e corriqueiro.
Como
a chuva que cai em solo morto e nada brota, mais vale deixar para a mórbida
memória estas silabas rasgadas de paixão.
Quem
dera que um copo de tinto emprenhado com prazer pelo sentimento, parisse um
poema desnudado da dor literária.
Que
esta caneta de traço azul poético, se manifestasse autónoma neste palco de
papel, numa dança grafológica emocional.
Quem
dera que a razão e a lógica descansassem na praia do imaginário para gozarem
as ondas do imenso oceano gramatical.
Oxalá
a lua descesse lá do alto do meu telhado e me segredasse ao ouvido os mantras
literários do eterno poema transcendental.
Quem
dera meu filho que cada pergunta tua resultasse em escrita narrada, sobre o
instante sentimental entre a vida e morte, que ora é verso, ora é prosa.
Quem
dera não escrever penado um sentimento, e que sentimento não houvesse, para não
ter de o escrever num poema.
©
Altino Pinheiro
14.05.2014
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