quinta-feira, 26 de março de 2015

Calçadas de Alfama – (lírica)


Por escadas, ruelas e becos.
Desço e subo na minha quietude
Tal guitarra gemendo seus ecos
Sofrendo íngreme solitude

Neste fado da minha vida
Cantado como fogo em chama
Fica ténue a minha subida
Nas calçadas de Alfama

Na linha do lento eléctrico
Do Castelo a São Vicente               
Aquieto meu espírito poético
Volto de novo a ser gente

Neste chão raso, pisado              
Estão as pedras da minha alma
Perco os passos do passado
Nas calçadas de Alfama


© Altino Pinheio - Março 2015






sábado, 21 de março de 2015

Prosa adormecer

Lembras-te do poema que te li naquela noite tépida de outono (?)
No lado da noite do dia seguinte em que as horas fugiam do sono
Aquele sono vazio de sonho, fatigando dois corpos na ânsia de adormecer
Deitados pelo remédio da redenção, na cama que também se deita o prazer (?)

Lembras-te como rasguei o silêncio daquele quarto, dos outros quartos, da mesma cama (?)
Um poeta que de súbito se despe da insónia nostálgica, porque lendo também se ama
Acordei as palavras que dormiam na folha estendida sob o candeeiro muito iluminado
Li-te a prosa da casa azul, a que não nos deixava adormecer, apenas um poema acabado.

Lembras-te como sonolenta e séria, ouvias atenta a minha voz declamando baixinho (?)
Só a noite fugida e a madrugada avançada, conheciam tão bem o que escrevia sozinho
Lindo disseste com um beijo em forma de aplauso, bravo disse o sono que lá estava afinal
E adormecemos sob quatro estrelas que brilham como um sonho na constelação universal.



 © Altino Pinheiro