segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

3,2,1, Slam


Este palco é num porto onde se embarcam e desembarcam palavras
Descarrega-se com paixão, expedindo a carga pesada do ego
Carregam-se os volumes da alma que se registam num poema
Fica-se refém da sorte, da folha de papel, sem rumo nem norte
E chega a ordem para partir do capitão, publico, juri, multidão…

3 2 1 slam

Então o mundo pára por instantes, três minutos somente
Interrompem-se sorrisos e pensamentos, o som de jazz eufónico.
Agora são poemas, são poemas e poisa-se devagar um copo de gin tónico

3 2 1  slam

Aqui se diz poesia, como quem dá bom dia,
Sobe-se ao barco e declama-se, enche-se e derrama-se
Aqui se contam segredos, coisas belas e enredos,
As cores de uma raça e outras coisas com graça
Mulheres em férias tão lindas,  boémios noturnos em noites já findas.
Aqui se contam insónias, fluindo palavras do coxis ao ventre
Aqui o som da serra faz ssssss todos os dias,
Aqui estão o Luís, a Carla, o Gonçalo, a Jaqueline e o Malaquias

3, 2, 1 slam

Vem declamar ao Ateneu
Aqui há quem te ame
E ouve este grito que é teu

© Altino Pinheiro
  
* Escrito com amor para o Poetry Slam PDL
Declamado na 4ª edição - 24 de Janeiro 2014 




domingo, 19 de janeiro de 2014

Sinto, não sinto, sentimento























Por vezes sinto que não sinto
É uma coisa estranha que me entranha
Sei lá uma dor, um vazio, um amor, um frio…
Outras vezes sinto que sinto
E escrevo textos floridos, garridos, gemidos…
Sei lá palavras que se constroem no momento
E fico ali decidindo, sentindo se sinto ou não sinto
Nesta coisa que chamo sentimento… 

© Altino Pinheiro

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Está frio, muito frio


Está frio, muito frio.
Os grãos de granizo caem abruptos na laje do meu quintal, salpicando em ricochete como bailarinas doidas numa dança de gotas de chuva alterada, gelada.
E a banda de gelo naturalmente desajustada no compasso toca uma melodia estilhaçada  um xeee continuo interrompido por um splash  e depois em tom maior aquele som de vidro quebrando.

Tenho de fechar a janela não vá o frio entrar no meu quarto e gelar-me a concentração que bebo neste chá de inspiração diluviana.

Está frio, muito frio.
Mas não quero aquecer-me, não quero!
Quero senti-lo como um dom desta natureza que sou parte e se reparte.

Que pensas que pensa o cão lá longe abandonado, aleijado, molhado que ladra para o maltrato deste frio?
Que pensas que pensa a acácia robusta que permite piedosa seus ramos e folhas serem castigados por este granizo gelado?
Que pensas que pensa o sem abrigo esmolado pelas feridas da sociedade, deitado em cartões de papelão que o embalam para a morgue?

Que pensas que pensa a rocha, o rio, o rato, a rua, a rosa, a rã e o rouxinol?
Está frio, muito frio.

Lá fora!

© Altino Pinheiro

domingo, 12 de janeiro de 2014

Que esperem


Por todos os lugares que passas espalhas uma névoa doirada.
Um perfume denunciante que paira no ar dizendo em verso nervoso;
Ela está aqui, ela está aqui!
Apareces como por magia, pura energia, saída da cartola de um mágico ilusionista, sentimentalista, artista da aparição, uma vibração! 

E em cada passo que dás na intermitência da sorte,
fixam-te os meus olhos apaixonados de baixo a norte.
Esqueço a morte, determinantes desejos ofuscados e as ilusões dominantes.
Não procuro mais, a tua beleza já me é demais…

E se não me deres um beijo dos teus mornos lábios jura ao menos que me levarás no teu pensamento permanentemente, sensualmente para o lugar que a memória não finda.
És a razão superior das causas que me completam, dos ciumentos efeitos ignorados.
Fazes adiar as coisas que digo amar e que agora podem esperar, esperar…  

Que espere deus adorado, glorificado, criador do céu e a da terra porque te amo
A mais bela rosa vermelha perfumada, os versos lindos que lhe escrevi, declamei...
Que espere, já a amei…

A minha suposta amada comprometida que tanto julgo amar, amei, amarei  
que espere porque te amo…
Que espere o mais velho e delicado vinho do porto fruto da videira,
porque não o amo, apreciei, degustei…
As filhas e os filhos deste meu sangue exaltado que derramo por ti em gotas de solidão...

Que espere paciente a esperança e que vá escrevendo algumas palavras de coragem, porque ela é sempre a ultima a morrer.   
Que esperem todas as coisas possíveis e imagináveis, visíveis e invisíveis, grandes e grandiosas.
Que espere a prioridade, a cidade, a comodidade, a sexualidade, para permanentemente restar a verdade

E a verdade é que...
Eternamente te amo.


© Altino Pinheiro

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Existem

  
Existem meu amor
Tantas coisas no meu pensamento
Que minha boca não diz
Por não saber ou não querer dizer

Existem meu amor
Imensos jardins floridos
E praias de água morna, paraísos…
E minhas pernas não nos levam lá
Por faltar-me pés ou caminhos para andar

Existem meu amor
Tantas pessoas para amar
Lindas paixões por acontecer
E meu coração não bate, não bate…

Mas sei que existem, existem!

E digo-te ao menos meu amor…

© Altino Pinheiro 2014