domingo, 6 de outubro de 2013

Aqui na feira



Aqui na feira é a sorte quem manda.
Nada é mais certo do que o leve desapego
Um lugar de muitas gentes e muitas coisas
Queridas, abandonadas ao tempo de uma recordação
Bancas de lembranças fugidas de outrora
Pechinchas sentimentais vendidas ao desbarato
Aqui na feira somos os melancólicos ricos da realidade  
Poderosos, neoliberais dos trapos e fatos.
Marxistas do alecrim, das moedas falidas do passado
Vibrantes cantantes, gritantes; - Bom e barato
Empáticos feirantes, pedintes; - Paga um, leva dois

Vendem-se recordações empoeiradas, discos, ceroulas e loiças
Abunda a arte nostálgica, sapatos, quadros e chás
Sábios escritos antigos, traquitanas, licores e sabões

Compram-se sorrisos verdadeiros, jeans, jogos e jarras
Dão-se promessas de qualidade, rádios, ferramentas e relógios
Trocam-se baluartes de amizade, casacos, camisas e beijos
Uma roda comunitária de vida sem fim
Abarcada no valor do preço mais justo

Aqui na feira é sempre assim…

© Altino Pinheiro

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