sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Poliedro



Se existe coisa dolorosa para mim é precisamente “mexericar” o passado, abrir o baú da memória para certificar-me que existem pedaços incompletos de mim. Sou uma estrutura que se faz com o tempo, que se vai compondo com o presente, evitando o recurso a peças que não se encaixam num puzzle que se quer contemporâneo. No entanto nesta arriscada viagem de regresso ao passado, podemos sempre desencantar tesouros perdidos no amontoado de acasos que julgávamos perdidos. Há 30 anos atrás tive a honra de participar num projeto literário do jornal Açoriano Oriental intitulado Poliedro. Autores anónimos, ou não, partilhavam quinzenalmente, aos domingos, o que lhes ia na alma através da escrita, em prosa e poesia. Um página inteira de cultura que agora é ocupada pelos índices dos mercados financeiros, analises politicas e outras que não sendo cultura, também cultivam. Expressava-me como adolescente, riscando tintas coloridas em papel de diários e cadernos, testemunhos físicos das emoções que em todo o momento poderiam ser revistos. Adorava o meu diário!

Um poliedro é uma figura geométrica cuja a superfície é composta por um número finito de faces e tal como os sentimentos possui vértices e arestas… Para se definir, rever e aceitar as emoções torna-se necessário recuamos lá atrás, ao baú do tempo e limparmos o pó das causas, estender os planos definidos pelas suas faces até se intersectarem, formando assim uma nova figura. E isto em geometria chama-se; Estrelamento. 

© Altino Pinheiro


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