Em solidão madrasta, escondo-me
no meu eu mais recatado, aquela parte que me escapo de mim. Visto-me de basalto
rochoso e mergulho no murmúrio do meu mar profundo como uma espada que trespassa
um corpo.
Assola-me a lava de
medo como o trovão sentido pelo vento, que teima em não ser quebrado.
Venho á superficie
receber a inspiração para de novo mergulhar em mim, numa exalação que se molda
em tempestade.
Não sou mais do que
pedra viva, que fala, que prosa, que pensa…
Não sou mais do que um
ilhéu perdido na pangeia oceânica, que o nevoeiro da ilusão esconde da iluminação
divina e dos sois que me querem abraçar.
Sou o peso que garajaus
e gaivotas não conseguem carregar, em seus deambulantes voos desorientados por
uma bússola que queria minha.
Rogo que um naufrago
perdido me descubra e me habite, tal casamento até que a morte o separe, que me
usufrua por inteiro bebendo água fresca das minhas nascentes mais puras, e não
se sinta prisioneiro de mim.
Que me descubra um
pirata porque também tenho tesouros, como as verdades que se dizem e os sentimentos
revelados, guardados nas profundas grutas
do meu ser.
Sou por acaso um ilhéu
esperando em sorte encontrar outro ilhéu, para dos nossos penhascos, juntos vislumbrarmos
o imenso horizonte da liberdade.
© Altino Pinheiro
© Altino Pinheiro