Que lugar é este que para lá do rio manso, ligeiro,
descobre-me na casualidade de mim e me diz entra.
Que faço eu no meio de tantos livros que não leio e que me
apelam num fascínio delirado.
Quem terá escrito tantos livros impressos numa árvore que se
fez papel, pedaços que preenchem este espaço e este tempo perdido no meio do
nada onde as letras se bebem como um chá ou uma água Germeta.
Como serão aqui as noites de inverno junto a esta lareira,
queimando páginas de romance, crime,
aventura, paixão, erotismo e ilusão, contidas, compactadas em soberbas
estantes talhadas no meio de escritores, artistas, pensadores e pensantes…
Aqui o silêncio é de oiro como os títulos cravados em relevo
nas capas de coiro macio, numa suavidade literária que o tempo não roubou.
Vejo os ilustres a entrar e a sair, vivos e mortos, a
escrever, a ler coisas sérias profundas,
nada de tretas literárias, nada de pimbas paginadas.
E eu sentado à mesa numa cadeira de prazer deixo-me
embriagar pelas palavras caríssimas, finíssimas de Shakespeare, Agata, Eucken,
Marh e outros que não conheço…
Posso juntar-me a vós?
E em sussurro responde-me o tempo que é sábio; bem vindo, escreve-te
em livro e deixa-te ficar aqui para sempre.
15.08.2013 - Beverungem / Alemanha
© Altino Pinheiro
© Altino Pinheiro
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