Hoje sou um pano de pó que passa leve e arrasta partículas mortas, leves, inertes, caídas num cedro envernizado que se afigura num móvel de quatro pés, de robustez aparente.
Porem sou o fogo que promete a certeza revelada em visão, a chama e a brasa deste pedaço de madeira e trapos já queimados dentro das gavetas tristemente trancadas.
Sou o ar que alimenta esta chama fascinante, que vai queimando as paixões do obreiro desta estrutura amontoada de tábuas, pregos e verniz.
Hoje sou a água que acode o cedro queimado, restos do móvel que arde na lenta combustão com pesar.
E sou também o lápis revelado no carvão que traça o negro
destino do pano de pó e da árvore que se projectou num móvel imóvel.
© Altino Pinheiro
© Altino Pinheiro
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