Há uma ponte de arco em meia lua metálica que separa um
leito, dois lugares um rio.Nas margens, plátanos e castanheiros altos escondem os
pilares atijolados, onde patos bravos e mansos quebram o silêncio doce,
pedinchando migalhas e pipocas em corridas desenfreadas, alguns rasando voo
imperfeito pela superfície das águas verdes e calmas.
Vejo as pessoas deste lugar diferente em cósmica
tranquilidade, delicadamente abandonadas ao lazer, ao prazer. Na margem de cá
um imenso campo relvado, ajardinado, bancos de jardim disformes na arquitetura,
lindos, desconfortáveis. Na margem de lá observo as casas ordenadas como do
paraíso se tratasse.
Vive gente lá dentro? Se sim têm bom gosto a julgar pelas sóbrias cores; verde alface, castanho madeirado, azul anil e outras que se
perdem na definição e na ordem que se quer harmoniosa.
Há um cais pequeno sem barcos, e chega mais gente, mais
pessoas e muitas mais bicicletas. Ouvem-se as vozes baixinho, sussurrantes,
simpáticas, passeando pela passagem pedonal paralela ao rio. Um sobe e desce,
entra e sai mais gente tranquila e mais
bicicletas, são tantas, imensas…. Como estará a minha? De pneus em baixo
com certeza.
No meio do grande relvado despoluído de ruído, dois campinos
deitados de cansaço ou marmaço. Talvez sesta , talvez sono. Há um enorme tronco
polido a servir de banco, descanso dos gnomos , penso eu.
A mãe cansada deitada num banco enquanto o menino tenta
rasgar o rotulo da garrafa de plástico sem água. Vai colocar na reciclagem
filho; diria eu ao Manuel ou ao António.
Na passagem de asfalto à minha frente, palco desta peça sem
fim, desliza astuta em patins a senhora quase idosa a sorrir como a dizer-me;
velho és tu!
À entrada do parque, se é que é mesmo, uma esplanada,
guarda-sois, mesas e cadeiras de alumínio leve prateado, vendem-se gelados olá
aqueles do coração que aqui são “Langnese”. Posso provar? Só provar para ver se
são iguais aos de lá? Deixa-te estar, saboreia esta paisagem que daqui a nada
ficas fresco.
Então distraio-me de novo pela beleza, agora humana, um
kaiak vagueando calmo, em linha reta rio abaixo, é gira a remadora, não lhe
vejo as pernas, tem bons braços para o remo.
E há uma casa ensolarada, majestosa, misteriosa, de madeira
e pedra alaranjada, com muitas janelas brancas de vidros pequenos aos
quadradinhos, nas soleiras imensos vasos retangulares, expostos com soberba,
bem tratados, cheios de vida e flores vermelhas, todas vermelhas. Serão
cravos? Parecem-me…
Sentado em esquadro neste banco de costas verticalmente
exageradas, fico escrevendo o que os meus olhos me descrevem deste lugar, que
poderá ser somente visão.
20 Agosto 2013
© Altino Pinheiro
© Altino Pinheiro
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