quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Paixão violada

Na Pertinência do tempo esgotado, 
amargurado recordo tudo que me foi roubado.
Esta lágrima de ternura decadente gera agora um sentimento de romance finado

Não vejo a menina de outrora colhendo as pétalas aveludadas das hortências molhadas pelo sereno da madrugada. Quem te roubou-me?
Já não oiço a canção do mar cantarolada pelos teus lábios que embalava o uivo do vento em cada rajada. Quem te calou?

Esquecemos os passos de dança do Martinho, pézinho da vila, 
das mornas ternas de Cesária e outros bailes de carnaval...
Deixamos de ler e reler as cartas enrugadas, guardadas pelo tempo, 
onde a palavra paixão não tinha ponto final. Quem nos tirou tudo isto?

Onde anda aquele sorriso que nos acordava todas as manhãs?
O nó da ternura que atava os nossos lábios num beijo delicado
Quem roubou a nossa cesta dos afetos, dos carinhos, das maçãs?  

Foi violada! Violada a paixão pelas causas...
Morrendo agora em eutanásia de dor
Há muito magoada, sofrendo por amor.


Altino - Novembro 2014  


sábado, 4 de outubro de 2014

Sepulcro de areia



Quero morrer na praia
Nos braços de Santa Bárbara
Banhado no pranto de suas lágrimas salgadas
Na câmara ardente das suas ondas surfáveis
Ouvindo os salmos de salvação da minha alma
No murmúrio decadente das marés vazias
Espargido pelas águas vivas não bentas.
Defunto venerado por gaivotas sarcásticas
E pelos pombos da rocha cascalhada.
Enterrar-me no basalto macio e morno
Sepulcro de areia cavada por pulgas saltitantes.
Fundir-me com ela num sono profundo
Eternamente rogando ao mar
Que não apague os passos
Deixados por ti em mim.

© Altino Pinheiro


domingo, 17 de agosto de 2014

Alma poente em sol nascente


Contemplo o sol nascente
                      No silêncio da madrugada                     
Feliz minha alma poente
                            Não anseia por mais nada                           

         À deriva no seu viver          
         Navega nas ondas do mar        
         Como as velas do meu ser         
Deixando o vento soprar

Barco guiado pelo farol
Em noites de marés vazias
Minha alma também é sol
Nasce bela todos os dias


© Altino 2014 


terça-feira, 12 de agosto de 2014

Resenha por Francisco Coimbra

 Altino Pinheiro – Editora VENTO ENCANADO 2014



Altino Pinheiro tem no seu sobrenome um nome de árvore, agora decidiu ganhar novas raízes ao divulgar a sua poesia fazendo-a acompanhar de desenhos de outras raízes suas que são os seus filhos António e Manuel. “Por favor compra-me estes poemas” é um livro despretensioso que se propõe ao leitor de forma pragmática, através de um pedido que é a primeira leitura que ele propõe: “Por favor compra-me estes poemas”. Quem satisfizer este pedido, passa a estar na posse de um conjunto de poemas interessantes e variados, uma introdução do autor e alguns textos em prosa poética.

O livro não tem um Índice e um índice é uma ajuda por vezes preciosa, mostrando quais são as designações que dão nome aos vários textos que incorporam o livro. O fato de não ter um Índice faz com que o livro possa ser e seja uma unidade indivisível que não se decompõe, compondo-se através de uma leitura que nele vá descobrindo todos os elementos pela ordem a que se predispuser. Aberto ao calhar, começando no princípio, começando pelo fim… este livro será sempre uma descoberta onde se tornará uma boa surpresa encontrar páginas entregues à simplicidade dum verso, duma frase, duma máxima? Duma mínima...? Vou começar por essas páginas.

“sou tu que me lês…” “que tal um abraço?” “em cada página um suspiro o meu …” “sou um livro que te fala…” “mergulha no teu mar…” “sei mais de mim…” ”sou mais do que uma simples palavra…” “deixa o vento virar a página...” “que bom estar contigo…” “solto as emoções aqui…”  “vou colorir os meus bichos…”  “quero aprender a ler-me…”  “hoje sinto-me como…”  “nunca é fim…” com esta frase o livro termina. Sendo que, volto agora ao princípio e vou dizer aquilo que ainda não disse, ou seja, “sou tu que me lês…” é a frase com que o livro começa, vem depois da dedicatória: “aos que compraram”. Esta dedicatória diz muito do livro, ele está virado para o leitor e é-lhe dedicado. É bom que os leitores o descubram, o aceitem, o comprem. Boas leituras (bons leitores)! Ficam os votos.

Francisco Coimbra

Poeta / Escritor

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Meu blog

Este blog (confessionário) quase secreto dos meus sentimentos é a “aplicação” tecnológica que mais confio. Aqui sinto que me leem sem saber quem, nem me interesso saber! Que gostam e sentem sem que se obriguem ao clique do “Gosto”. Que em silêncio distante me leem somente…
Este misto: secreto/intuitivo, faz-me(te) bem, muito bem… afasta-me(te) do ruído empático “virtual” e remete-nos os dois para dentro de cada um de nós.
Quem escreve e quem lê fundem-se numa simbiose mística, partilham aquela quietude necessária, muitas vezes esquecida pela ansiedade de esperar um novo e rápido sentimento.
Se neste breve instante sou tu que me lês, quero que tu sejas eu que te escrevo para que no recolhimento dos nossos seres sejamos almas tão iguais…

Aqui entre nós os dois: sabe-nos tão bem sentir o mesmo! 

domingo, 29 de junho de 2014

A tua cidade


Que cores pintam a cidade urbana, metropolitana… onde moras?
Tem verde sedoso de esperança, branco puro de imensidão, 
olho azul de criança…  

Onde nasce o sol em cada manhã? 
Por detrás dos blocos de betão, no alto da torre da igreja da 
Senhora da Aflição ou no teu rosto morno de gratidão. 
É mesmo sol, verdade? 

Tem terra arável a tua cidade? 
Para semear migalhas de pão, folha perfumada de hortelã, 
um filho que pinte meus sonhos com lápis de cera, premonição.

Que gosto tem a tua cidade? 
Doce compota de figo, teus peitos melados, 
laranjada gaseificada, biscoitos de milho doirados. 

E tem noite a tua cidade? 
Tão noite assim para que no silêncio desta durmamos, amemos…
esperando por mais nada a não ser o dia… na tua cidade.

Esperança


Esperança é pedra falante
Diz espera
Confiança...

Murmúrio de coragem

Lava incandescente 
Solidificada
Não se parte
Não se perde
Não se cala!
Imortal…

terça-feira, 17 de junho de 2014

Medusa


Meu viver imensuravelmente urgente, 
incompreensivelmente apressado.
Faz-me sentir que não sou gente...
Vivo inexplicavelmente assustado. 

Vida medusa apaixonável.
Meu irremediável nascimento,  
foi-te assim tão deplorável
para tamanho sofrimento?

E evitavelmente cansado, 
vou provavelmente sendo,
aparentemente amado.
Por ti medusa, morrendo.


© Altino Pinheiro - 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Não é fácil escrever um poema



Como o mar que se vaza em marés, para depois se expressar nas ondas do pensamento, assim me sinto, redopiando palavras para escrever um poema.

Coloco a mente em desvario procurando o verbo que descreva o sentimento. E deve ser ímpar, para fazer nascer um verso novo, solto como o vento.

Sabes meu filho, isto de escrever tem muito que se lhe sinta, se não sentires, mais vale correres para não seres apanhado pelo pensamento.

E não te ponhas a empurrar a emoção magoada, com tântricas palavras ocas, que acomodem teus olhos às lágrimas da comoção ultrapassada.

Mais vale perguntares ao amor intermitente ou à dor permanente se te podem ajudar na tua derradeira expressão. Porque não é fácil escrever um poema.  

Oxalá fosse tão fácil escrever sobre as minhas viagens ao mundo das transcendências interiores, do juízo que se rasga num pensamento falso e corriqueiro.

Como a chuva que cai em solo morto e nada brota, mais vale deixar para a mórbida memória estas silabas rasgadas de paixão.

Quem dera que um copo de tinto emprenhado com prazer pelo sentimento, parisse um poema desnudado da dor literária.

Que esta caneta de traço azul poético, se manifestasse autónoma neste palco de papel, numa dança grafológica emocional.

Quem dera que a razão e a lógica descansassem na praia do imaginário para gozarem as ondas do imenso oceano gramatical.

Oxalá a lua descesse lá do alto do meu telhado e me segredasse ao ouvido os mantras literários do eterno poema transcendental.

Quem dera meu filho que cada pergunta tua resultasse em escrita narrada, sobre o instante sentimental entre a vida e morte, que ora é verso, ora é prosa.

Quem dera não escrever penado um sentimento, e que sentimento não houvesse, para não ter de o escrever num poema.

© Altino Pinheiro

14.05.2014

sábado, 26 de abril de 2014

Portugal; sorte ou morte



Não há mais há tempo para a ilusão, rasguem jornais, apaguem a televisão
Chegamos ao ponto crítico, de rasgar e queimar boletins do loto politico
Já não há mais nada que sofrer, comeram-te a carne e o osso te querem roer
Terminou a validade da pachorra, mandemos os imperadores à porra.

Já não há mais resgates nem ajustes financeiros, calemos os curandeiros
Mostrem as estes sacanas , a faca cega da força ou o gume certo da forca
Tragam gatunos ao terreiro, o País está em chamas por causa de suas famas
Cortem-lhes um dedo por cada milhão ou a língua porque dedos faltarão

Venham os operários e os tenentes inoperantes, somos todos importantes
Poetas, professores, alunos reformados  e enfermeiros emigrados
Venham bombeiros fardados,  recordar colegas queimados
Venham Policias também, dar porrada a valer, seus filhos têm que comer

Acabou-se a eterna manifestação, doloroso sufoco de comiseração.
Por mais que custe é este o momento,  de acabar com o sofrimento
De acordar quem dorme para matar a estatística da fome
É agora, é agora.  O que tens a perder se os mandares foder.
Esta é a hora de dares um grito, de libertares o teu futuro aflito.
Espera-te a sorte ou a morte, e se nada fizeres, só morte, só morte...

Acabou-se o isto está mal, está na hora de salvar Portugal.

© Altino Pinheiro
25 Abril 2014 - Poetry Slam PDL

sábado, 19 de abril de 2014

Anjo caído



Há um anjo caído na calçada da praça, que vai rasgando joelhos, prometendo, pedindo, implorando a Cristo que é Deus nosso senhor na unidade do espírito santo, um milagre!

Este anjo caído é uma mãe sofrida, é um pai cansado, um embrião nascido, é um filho perdido no caminho da solidão.
Carregam nos ombros a confissão pesada da vida e da morte, revelada num molho de sírios que a chama do destino não perdoou.

Pelo campo do senhor vão em promessa, descalçados da dor que lhes crava a alma de emigrantes passageiros, coroados por uma vida de espinhos.

E Cristo glorioso, que é Deus do perdão, o maior dos milagres, deixa cair uma lágrima perfumada do seu rosto florido, o andor mais leve do amor, para inundar de gratidão o anjo caído na calçada da fé.

© Altino Pinheiro 2013



quarta-feira, 12 de março de 2014

Dono do nada




As coisas que eu tenho não são mais do que pedras lascadas que me rasgam os passos
São agora lágrimas vertidas que sangram os meus olhos.
As coisas que eu tenho são de falsa prata, que fui comprando, amontoando sem querer e sem o seu valor entender.

Agora desesperada, sufoca a minha alma as querendo oferecer.
Quer dá-las, aliena-las, não empresta-las, faze-las desaparecer…

Tu poeta das causas do amor, queres um lápis desafiado para melancólico escreveres?
Tu senhorio das casas calhadas queres uma cama e uma almofada para não adormeceres?

Sou inquilino da paixão que cobra coragem nesta vida emprestada
Farto de coisas e tralhas que me fazem ser o legítimo dono do nada


© Altino Pinheiro


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Love Phone



Oh minha banda larga
Com os teus bits sem fim           
és o mais belo like
deste tecno jardim

O meu chat tem sede           
Do teu saldo ilimitado
Vou entrar em tua rede
E ficar apaixonado

O teu lindo download
Enche o meu coração              
Virtual e tão só
Sem sms de paixão

És um vírus fascinante
As minhas teclas amigas
Love phone alucinante
Cheio de megas e gigas


© Altino 2013

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Sofia dos duzentos anos


Hoje dou-me gratuitamente, sem preço me ofereço, livremente.
Reparto pedaços de mim como a flor que espalha pétalas ao vento, dividindo sementes.
E não espero que a primavera brote de novo mais do que um simples sentimento.
Dou-me assim então, livre de pretensão como quem morre sereno não esperando salvação.

Quarta feira não passa de um dia. Como se chama? Sofia.
Os dias são lentos quando não dás. Pesadas horas, relutantes, que o tempo te trás.
Olhos azuis clarinhos, alegre, idosa dos carinhos, sorridente como se não estivesse doente.
Vens dar-me nosso senhor? Fixa-me atenta. Não, é a sopa que também alimenta.
Tá quentinha? Não gosto de coisas frias, bastou-me os molhos de lenha às costas naqueles dias.

Quantos anos me dás? Não tos dou já os tens, mas querias mais do que os teus oitentas e tais?
Tenho duzentos, sim duzentos anos e vê como sou bonita, aqui sentada, torcida, garrida...
Endireita-me as costas pela alminha dos teus. Vê estas mãos tão inchadas. A papa está fria mas é doce, docinha, humm…

Quantas vidas viveste Sofia? Foi assim de repente ou dia após dia?
E este sorriso sempre foi teu? Ou herdaste do teu pai que dizes ser eu?
Duzentos anos, duzentos anos… vida vivida, sofrida, sorrida, suada, revirando coisas que a memória ainda guarda.
Sabias que a Mariazinha da dois cozia belos bolos de massa sovada? Oh era coisa aprovada.
A sua mãe ainda cose aqueles famosos bolos? Perguntam ao filho os esganados, os tolos.
Os fornos apagam-se nestas idades, resta apenas um rosto rosado queimado de saudades.
E a Conceição da seis? Coitada, ainda chora o irmão, foi pró calhau às lapas num dia de verão.
Sempre se trocava por um saco de farinha, apareceu três semanas depois sem cabecinha.
Enterraram num lençol o coitado rapaz. E a mãe não o viu, não o tocou. Isso não se faz.
Estava cheio de bichos, conversa do regedor. Uma mãe tem de chorar o filho para sarar sua dor.

Sabes, quando começo a falar nunca mais me calo. Fala, fala que não me ralo.
E tu, tens filhos ? Sim quatro, dois rapazes e duas raparigas.  Uma delas também se chama Sofia. Eu sabia, eu sabia. Ela é mais nova ou mais velha do eu?
É muito mais nova, uns bons anos…
Pois, pois…
Vens dar-me Nosso Senhor?
Não. Venho dar-te um bocadinho de mim, Sofia dos duzentos anos.

© Altino Pinheiro


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

3,2,1, Slam


Este palco é num porto onde se embarcam e desembarcam palavras
Descarrega-se com paixão, expedindo a carga pesada do ego
Carregam-se os volumes da alma que se registam num poema
Fica-se refém da sorte, da folha de papel, sem rumo nem norte
E chega a ordem para partir do capitão, publico, juri, multidão…

3 2 1 slam

Então o mundo pára por instantes, três minutos somente
Interrompem-se sorrisos e pensamentos, o som de jazz eufónico.
Agora são poemas, são poemas e poisa-se devagar um copo de gin tónico

3 2 1  slam

Aqui se diz poesia, como quem dá bom dia,
Sobe-se ao barco e declama-se, enche-se e derrama-se
Aqui se contam segredos, coisas belas e enredos,
As cores de uma raça e outras coisas com graça
Mulheres em férias tão lindas,  boémios noturnos em noites já findas.
Aqui se contam insónias, fluindo palavras do coxis ao ventre
Aqui o som da serra faz ssssss todos os dias,
Aqui estão o Luís, a Carla, o Gonçalo, a Jaqueline e o Malaquias

3, 2, 1 slam

Vem declamar ao Ateneu
Aqui há quem te ame
E ouve este grito que é teu

© Altino Pinheiro
  
* Escrito com amor para o Poetry Slam PDL
Declamado na 4ª edição - 24 de Janeiro 2014 




domingo, 19 de janeiro de 2014

Sinto, não sinto, sentimento























Por vezes sinto que não sinto
É uma coisa estranha que me entranha
Sei lá uma dor, um vazio, um amor, um frio…
Outras vezes sinto que sinto
E escrevo textos floridos, garridos, gemidos…
Sei lá palavras que se constroem no momento
E fico ali decidindo, sentindo se sinto ou não sinto
Nesta coisa que chamo sentimento… 

© Altino Pinheiro

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Está frio, muito frio


Está frio, muito frio.
Os grãos de granizo caem abruptos na laje do meu quintal, salpicando em ricochete como bailarinas doidas numa dança de gotas de chuva alterada, gelada.
E a banda de gelo naturalmente desajustada no compasso toca uma melodia estilhaçada  um xeee continuo interrompido por um splash  e depois em tom maior aquele som de vidro quebrando.

Tenho de fechar a janela não vá o frio entrar no meu quarto e gelar-me a concentração que bebo neste chá de inspiração diluviana.

Está frio, muito frio.
Mas não quero aquecer-me, não quero!
Quero senti-lo como um dom desta natureza que sou parte e se reparte.

Que pensas que pensa o cão lá longe abandonado, aleijado, molhado que ladra para o maltrato deste frio?
Que pensas que pensa a acácia robusta que permite piedosa seus ramos e folhas serem castigados por este granizo gelado?
Que pensas que pensa o sem abrigo esmolado pelas feridas da sociedade, deitado em cartões de papelão que o embalam para a morgue?

Que pensas que pensa a rocha, o rio, o rato, a rua, a rosa, a rã e o rouxinol?
Está frio, muito frio.

Lá fora!

© Altino Pinheiro

domingo, 12 de janeiro de 2014

Que esperem


Por todos os lugares que passas espalhas uma névoa doirada.
Um perfume denunciante que paira no ar dizendo em verso nervoso;
Ela está aqui, ela está aqui!
Apareces como por magia, pura energia, saída da cartola de um mágico ilusionista, sentimentalista, artista da aparição, uma vibração! 

E em cada passo que dás na intermitência da sorte,
fixam-te os meus olhos apaixonados de baixo a norte.
Esqueço a morte, determinantes desejos ofuscados e as ilusões dominantes.
Não procuro mais, a tua beleza já me é demais…

E se não me deres um beijo dos teus mornos lábios jura ao menos que me levarás no teu pensamento permanentemente, sensualmente para o lugar que a memória não finda.
És a razão superior das causas que me completam, dos ciumentos efeitos ignorados.
Fazes adiar as coisas que digo amar e que agora podem esperar, esperar…  

Que espere deus adorado, glorificado, criador do céu e a da terra porque te amo
A mais bela rosa vermelha perfumada, os versos lindos que lhe escrevi, declamei...
Que espere, já a amei…

A minha suposta amada comprometida que tanto julgo amar, amei, amarei  
que espere porque te amo…
Que espere o mais velho e delicado vinho do porto fruto da videira,
porque não o amo, apreciei, degustei…
As filhas e os filhos deste meu sangue exaltado que derramo por ti em gotas de solidão...

Que espere paciente a esperança e que vá escrevendo algumas palavras de coragem, porque ela é sempre a ultima a morrer.   
Que esperem todas as coisas possíveis e imagináveis, visíveis e invisíveis, grandes e grandiosas.
Que espere a prioridade, a cidade, a comodidade, a sexualidade, para permanentemente restar a verdade

E a verdade é que...
Eternamente te amo.


© Altino Pinheiro

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Existem

  
Existem meu amor
Tantas coisas no meu pensamento
Que minha boca não diz
Por não saber ou não querer dizer

Existem meu amor
Imensos jardins floridos
E praias de água morna, paraísos…
E minhas pernas não nos levam lá
Por faltar-me pés ou caminhos para andar

Existem meu amor
Tantas pessoas para amar
Lindas paixões por acontecer
E meu coração não bate, não bate…

Mas sei que existem, existem!

E digo-te ao menos meu amor…

© Altino Pinheiro 2014